terça-feira, 6 de setembro de 2011

A limpeza

A limpeza

Quantas vezes lemos livros, apreciamos contos, espiamos uma crônica e até mesmo assistimos a um filme que todos falam e, no final, você diz: “não entendi nada, ou livro besta, nam!”

Isso já me aconteceu ao terminar de ler um conto de Clarice Lispector em que a personagem limpava a casa exaustivamente a todo instante. Ao me deparar com aquilo, achei tudo muito sem sentido. Passou. Hoje vejo que temos preguiça de enxergar o profundo, o que está nas entrelinhas, o que está implícito, o dito no não dito, enfim, não conseguimos alcançar e nem nos enxergamos naquela situação, por isso as leituras que fazemos superficialmente não têm sentido e passam. 

Queremos uma igreja instantânea, que acate tudo que o mundo coloca à tona, não consideramos séculos de oração e tomadas de decisão. Queremos respostas prontas para todos os nossos problemas e nossas dúvidas, esquecendo-se do Espírito Santo que nos faz entender na hora certa aquilo que precisamos saber. 

Além disso, estamos acostumados a não enfrentar os problemas, na verdade, a dor é vista como inimigo crucial, no entanto, ela é fundamental e essencial no nosso processo de limpeza, de discernimento e de crescimento na fé. Ao se deparar com a dor, por exemplo, de um término de relacionamento, queremos ou morrer, ou implorar por um amor que já não existe ou simplesmente colocar outro objeto-pessoa no lugar para que não sintamos a dor da perda, para que fujamos da sensação desagradável de ruína, para que não nos reconheçamos como perdedores.

A personagem de Clarisse queria fazer uma limpeza mental, sair do passado massacrante, da decepção com os amigos, da desilusão amorosa, das perdas constantes que não sabemos nos desfazer. Era isso que ela fazia: uma limpeza no sentido literal, mas por dentro existia à vontade de se esvaziar de tudo que não tem sentido. E limpar o mesmo objeto várias vezes significava a luta para se livrar daquilo que já não nos pertence, se é que algum dia nos pertenceu. A luta demorava, porque ela caminhava sozinha, sem Deus, somente com as próprias forças e, óbvio, muitas vezes, esse objeto precisava ser isento de sujeira, isenção esta que só o Amado pode suprir. 

Façamos isso, enxerguemos o profundo e não a margem, invocando Aquele que já é por si só o Amor, o Profundo, o Detentor de toda a nossa cura interior.

Por: Márcia Linhares Rodrigues 
Coordenadora do Núcleo de Formação da PJ² (Pastoral da Juventude com Jesus)

3 comentários:

  1. É muito importante crescimento na fé saber lidar com as perdas de maneira correta, sem dar a dor uma importância maior do que aquilo que ela representa: aprendizado.
    Deus está sempre conosco e cabe a nós sabermos onde procurar a cura para as nossas mazelas.

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  2. Existem coisas que já sei, como o amor do Senhor por mim! Mas como é bom poder saber de novo! Escutar alguém vir me lembrar, principalmente quando eu menos mereço escutar! Esse texto foi assim pra mim hoje, já sabia do que estava escrito, mas como foi bom escutar de novo! Parabéns Márcia, continue mandando textos assim! Edificadores de almas...
    Pax et Lux!

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  3. A Thaty só marcando presença aqui....
    Quando penso nela, já dá vontade de rir de tanta parresia..
    rs..

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