terça-feira, 20 de setembro de 2011

Cruz da JMJ vai à Cracolândia

Texto retirado do blog Destrave da Canção Nova. Leia, não será em vão.

É noite, estamos no Centro de São Paulo – para ser mais exata, na Catedral da Sé, onde o ícone de Nossa Senhora e a cruz peregrina, símbolos da Jornada Mundial da Juventude, ficaram durante todo o dia expostos para veneração dos fiéis.

Às 19 horas deu-se início a Via-Sacra, seguindo o seu itinerário. O cenário sugerido não é de muita beleza. Moradores de rua já começam a fazer parte da paisagem por onde passa a cruz, mas é ali o lugar escolhido para essa passagem; sem dúvida, foi a Divina Providência que nos guiou.

No Largo São Bento, padre Júlio Lancelotti convida os presentes a dizerem a seguinte frase: “ O irmão de rua é meu irmão”. E continua:  “A cruz é sinal de vida, ali Deus nos ama”. Em seguida, questiona-nos:  “ Sabe por que o diabo tem raiva da cruz? Porque ele não é capaz de amar”.


Durante a oração do terço, um morador de rua nos interpelou: “Faz uma foto minha, moro na rua, mas sou gente…”

Como não ser questionada por tal informação?

Continuamos então nossa caminhada, deparando com aquela dura – e porque não dizer ‘cruel’ – realidade. Eram hotéis baratos usados para prostituição, mas sua clientela não era indiferente à passagem da cruz e do ícone da presença pura da Virgem Maria. Os olhares eram fixos para aqueles jovens que, com alegria, carregavam a cruz nos ombros.

De repente, fomos caminhando rumo a uma favela, a “Favela do Moinho”. Fomos interrompidos pela passagem de um trem que corta o lugar, os barracos ficam à margem dos trilhos, já eram 22h30. Aquela cena nos fez experimentar o desconforto de toda aquela situação que os moradores daquele local vivem de forma cotidiana.

Porém, num campo aberto da Favela do Moinho, uma prece foi feita com fervor por Dom Tarcísio Scaramussa, Bispo Auxiliar de SP, responsável pela região Centro, que como Pastor da Igreja de Cristo esteve presente em todo o percurso.

Uma moradora do lugar nos falou em lágrimas: “Como pode Jesus vir aqui?” O local não tem saneamento básico e em boa parte da favela não há energia elétrica, o lixo nas ruas  sinaliza o abandono.
Saindo dali fomos em direção a um cenário de horror, a Cracolândia, na Estação da Luz. O encontro de nossa procissão com um comércio de crack a céu aberto foi impactante.

Ao chegarmos vimos roupas, frutas e peças de carro sendo expostas em mesas ou no chão para serem trocadas por pedras de crack. Expostas também estavam as pessoas presentes naquele lugar, umas deitadas no chão, delirantes, outras paradas olhando fixamente para algum lugar, com as pupilas dos olhos dilatadas. 

Não avançamos por alguns minutos, era respeitoso da nossa parte entrar somente se fôssemos convidados. Porém, eis que surgem gritos: “Eles são da Igreja! Podem entrar!” Nesse instante a cruz foi erguida para que a dor e o sofrimento de Cristo se unissem à dor e ao abandono daqueles filhos e filhas de Deus.


Algumas pessoas, mesmo na ‘nóia’, vinham ao encontro dos sacerdotes pedindo-lhes a bênção e abraçando-os. Ali rezamos mais um mistério do santo terço e, aos poucos, levantava-se um grande clamor. Eis que a luz entra onde as trevas são evidentes. Uma experiência única, imagens que não saem da nossa cabeça, primeiramente pelo horror que nos causam. Como pode alguém viver assim? Mas também por vermos a beleza da cruz, que, em meio a tanto sofrimento, se deixa encontrar pelos mais pobres e excluídos. Uma lição de vida!

A Via-Sacra segue com os jovens expressando sua fé e alegria por poder levar esperança a tantos que não a têm. O trajeto é encerrado às 23h10 com o ápice da fé: a Santa Missa na Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte. Ali a cruz fica até terça-feira, quando mais uma vez – como peregrina que é – continua seu caminho.
Por Cristiane Henrique – Produção Destrave

2 comentários:

  1. Muitas vezes ouvi falar da Cracolândia...mas apenas nos jornais. Reportagens onde abordavam a criminalidade, tráfico e violência. De cara o título desse artigo me chamou atenção, pois, como imaginar esse cenário? A Cruz da JMJ lá? Aquela cruz que estava lá na Espanha, que irá estar no RJ, esteve lá na Cracolândia! Lá onde eu só via entrar policiais e repórter quando permitido!
    Jesus quis estar lá, mais do que em qualquer lugar melhor, de cenário bonito, de ruas asfaltadas, de pessoas santas... Ele não veio para os santos, os curados...Ele veio para os doentes, para os pecadores. E nós, como pecadores que somos, temos que buscar mais e mais estar próximos a sua Cruz. Muitas vezes nós nos afastamos porque achamos que somos indignos. Mas Ele está mostrando que quer é você perto! Não importa seu pecado. Isso não interessa, isso é o mínimo diante do Amor Dele por você.
    E sejamos luz para aqueles que precisam, para aqueles que estão longe...
    Essa realidade de drogas não está presente só na Cracolândia...está bem perto de nós...está no Pólo de Lazer do Conjunto Ceará por exemplo. Essa Cruz tem que estar lá também, através de nós. É isso... vou parar se não escrevo outro artigo. Beijo!

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  2. Tanto o artigo quanto seu comentário Alice são fortes representações da presença viva de Cristo no meio de nós!

    A Cruz da JMJ não vê distâncias, não pensa em dificuldades... Para Jesus, não há porta que não possa ser aberta!

    Como diz a canção: "Deus tem cuidado de nós! Sim, Deus tem cuidado de nós..."

    E esse cuidado foi mais uma vez mostrado para aqueles que duvidam do Amor de Deus quando Cristo entrou na Cracolância!

    Como diz a palavra: "Quem tem olhos, que veja!"

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